Nampula (IKWELI) – As primeiras seis horas do processo de votação na província de Nampula foram caracterizadas por um ambiente calmo com tendência para agitação, pela quantidade de ilícitos eleitorais que se foram verificando sucessivamente.
Na Ilha de Moçambique, local onde votou o candidato presidencial da Renamo, Ossufo Momade, o nosso correspondente observou que na mesma mesa registou-se uma contenda, por ter sido flagrado um eleitor com boletins pré-votados a favor da Frelimo e do seu candidato, Filipe Nyusi.
Na cidade de Nampula, o mais importante centro urbano do norte de Moçambique, o relato é que há detenções ligadas a casos de ilícitos eleitorais, mormente a posse de boletins pré-votados a favor da Frelimo. Na Escola Primária e Completa (EPC) 7 de Abril, no centro da autarquia, um jovem foi recolhido por agentes da polícia moçambicano por ter sido encontrado na posse de uma quantidade não especificada de boletins de votos. O mesmo indivíduo pretendia votar na mesa com o número 03005-08/03330-01.
No distrito de Rapale, bem próximo a cidade capital provincial, o ambiente é calmo, segundo constatamos na EPC de Nicuia, no posto administrativo de Namaita, onde estão montadas quatros mesas.
Pelo menos, segundo constatamos, as mesas visitadas pelos nossos repórteres abriram pontualmente As 7h, segundo manda a lei e a maioria dos eleitores na fila eram mulheres, sobretudo idosas.
“Já votei e não vejo o que dizer. O processo foi simples”, disse a senhora Muavilela Chapila, idosa que acabava de exercer o seu direito cívico em Namaita.
As reclamações dos concorrentes
O partido Acção do Movimento Unido para a Salvação Integral (AMUSI) queixa-se da exclusão dos seus delegados de candidatura nas mesas de voto, sem motivo aparente protagonizado pelos presidentes das mesas.
Alves António, mandatário provincial do AMUSI em Nampula, disse ao Ikweli que nos distritos de Memba, Mossuril, Monapo e Rapale, o partido não tem os seus delegados de candidatura operacionais, alegadamente, por falta de número de ordem nas respectivas credenciais.
Outrossim, é que alguns delegados de candidatura do AMUSI foram acreditados como sendo da Renamo no distrito de Mossuril, concretamente na zona de Matibane.
“Neste momento, os nossos fiscais estão fora em algumas escolas de Memba, Monapo, Mossuril e Rapale, sobretudo nas EPC´s de Cava, Chipene, Meculimpa, Namitatar, Matibane, Monapo-Rio, EPC de Monapo em Rapale onde neste momento apenas esta o na sala de votação os fiscais da Frelimo. Os meus colegas já falaram com as respectivas Comissões Distritais de Eleições. Eu, também, já falei com o presidente da Comissão Provincial de Eleições, mas até agora não resolveu o problema. Além disso, em Carrapira muitos eleitores estão a voltar sem votar porque os seus nomes não constam nos cadernos, mesmo na posse de cartões de eleitor. Estes actos dão sinais claros de uma preparação de fraude eleitoral”, anotou Alvés António, mandatário provincial do AMUSI.
A outra reclamação sai do cabeça-de-lista da RENAMO a governador de Nampula, Luís Mecupia, que denuncia uma suposta intimidação aos cidadãos eleitores por parte das Forcas de Defesa e Segurança, fortemente armada.
Jornalistas e observadores com trabalho dificultado
Um Membro de Mesa de Votação (MMV) afecto a Assembleia de voto número 03008-05, na Escola Primária Completa de Muatala, arredores do Concelho Autárquico de Nampula, está impedir a entrada dos jornalistas e observadores nas salas onde decorre o processo de votação.
Segundo aquele escrutinador, no acto da sua formação foi instruído para não deixar entrar nas assembleias de votação aos jornalistas, observadores nacionais e internacionais.
O escrutinador, cuja identidade não apuramos, agrediu psicologicamente ao nosso repórter, quando este tentava aceder a sala de votação, e graças a intervenção dos eleitores o pior não aconteceu.
Enquanto isso, na Escola Primaria Completa de Mutauanha um observador nacional, cuja organização não conseguimos apurar devido a danificação do seu credencial, escapou de pancadarias depois de ser encontrado com três cartões de eleitores de proveniência duvidosa.
Os eleitores que falaram ao Ikweli lamentaram a situação. “Quando questionamos a proveniência dos cartões ele disse-nos que estava a ajudar os escrutinadores, porque a fila era enorme. Voltamos a questionar se o seu serviço era exactamente aquele, mas não respondeu”, contou um cidadão que participou da intentona.
“Eu estava a ajudar aos eleitores, porque nas três filas havia muitas pessoas e a confusão já estava a ganhar contornos alarmantes, e foi daí que pensei em ajudar aos escrutinadores. Também, não são cartões de proveniência duvidosa como dizem os eleitores”, defendeu-se o indiciado, Januário Alberto.
Enquanto isso, a plataforma de observação eleitoral que congrega organizações da sociedade civil, Polícia da República de Moçambique, confissões religiosas, academia e órgãos de gestão eleitoral, lamenta a exclusão dos seus observadores no processo de credenciação, facto que está a condicionar o trabalho das organizações da sociedade civil membros da mesma.
“Os 300 observadores previstos pela Sala da Paz não foram, até ao momento, credenciados, o que nos preocupa bastante. Mas estamos a espera dos órgãos eleitorais porque sabemos que continua o processo de emissão de credenciais”, refere a plataforma em comunicado de imprensa enviado a nossa redacção, para depois escrever ainda que “em relação a abertura das mesas, a plataforma Sala da Paz, tem a dizer que o processo de votação na província de Nampula, arrancou na maioria dos postos as sete horas, e foi notória uma maior afluência de eleitores nas filas de votação que priorizaram as primeiras horas do dia para exercer o seu direito cívico”.
“Em alguns postos de votação, vários eleitores tiveram dificuldades em localizar as suas mesas, mas a equipe do STAE esteve presente para ajuda-los, o que louvamos”, lê-se ainda no documento cujo conteúdo temos vindo a citar.
Por outro lado, preocupa a Sala da Paz que “haja eleitores recenseados que não estejam a votar por terem perdido o cartão eleitoral”.
“Lamentamos o caso dos boletins de voto já assinalados encontrados na posse de um cidadão na EPC de Farlah, no distrito de Angoche, e desencorajamos tal comportamento porque pode manchar o processo. Contudo, apelamos que mais eleitores se dirijam as assembleias de votação. E que se mantenha a calma que caracterizou o inicio da votação”, conclui a posição da plataforma.
Órgãos eleitores satisfeito com o decurso da votação
“Avaliamos de forma positiva como o processo está a decorrer. Há muita afluência dos cidadãos eleitores e não há problemas até aqui”, disse Daniel Ramos, presidente da Comissão Provincial de Eleições de Nampula.
Quanto aos problemas que foram registados nas primeiras horas do dia, Ramos acredita que serão ultrapassados. (Abrão Chemane, Celestino Manuel, Constantino Henriques, Elisabeth José, Miguel Teodósio e Sitoi Lutxeque. *Fotos: Hermínio Raja)