«QUAL A COR DO RACISMO? BRANCA? NEGRA? AMARELA? VERMELHA?

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Desde os tempos de antes de os homens escreverem a Bíblia, já havia movimentos de povos que, armados de ferramentas mais desenvolvidas, se atreveram a ir por esse planeta fora à procura de espaços mais confortáveis. Curiosamente, partiram de África os primeiros povos colonizadores de outros continentes. O clima e a alimentação, e não só, foram-se encarregando de lhes aclarar a pele. Seria ridículo que ainda hoje nos lamentássemos, nós, povos de outros continentes, pelo facto de ainda nos correrem nas veias vestígios de sangue dos negros, ou, ainda mais risível, continuar a lamentar a invasão negra.

O racismo é um cancro próprio de ignorantes e, como tal, usado para manipular outros ignorantes, seja qual for a sua cor ou raça. Não viria nenhum mal ao mundo se não servisse para criar um ambiente conflituoso, em tudo contrário à condição humana.

Convém relermos e divulgar alguns preceitos da “Declaração de Ética Mundial”, um documento que todos deveríamos ler. Nenhum opinador responsável deveria divulgar as suas opiniões racistas na comunicação social, pois são mais perigosas que balas, capazes de contrariar o essencial da condição humana. Diz, a propósito, o diploma que referimos: “Consideramos a humanidade como nossa família. É preciso que almejemos ser amigáveis e generosos. Não podemos viver apenas em favor de nós mesmos, e, mais que isso, precisamos servir aos outros e jamais esquecer as crianças, os idosos, os pobres, os sofredores, os deficientes, os fugitivos e os solitários. Seja como for, jamais alguém deverá ser explorado ou tratado como cidadão de segunda classe. ”

Temos de saber e divulgar que “todos dependemos uns dos outros.” E, portanto, “nossas tradições religiosas e culturais diversas não nos devem impedir de assumir um posicionamento activo e comum contra todas as formas de desumanidade e em favor de mais humanidade.” É fundamental que tenhamos bem presente que “precisamos ser capazes de perdoar, à medida que aprendemos com o passado, mas jamais permitir que permaneçamos prisioneiros de lembranças de ódio. E ” (…) Não exploraremos, não lesaremos, não torturaremos, nem jamais mataremos qualquer ser humano, e renunciaremos à violência como meio para a solução de diferenças.” Pois ” todo ser humano – sem distinção de idade, sexo, raça, cor, capacidade física ou intelectual, língua, religião, convicção política, origem nacional ou social – é dotado de uma dignidade intocável e inalienável. Todos, portanto, tanto o Estado como o indivíduo, estão obrigados a respeitar essa dignidade e garantir-lhe defesa efectiva. Também na economia, na política e nos meios de comunicação, em institutos de pesquisa e em empreendimentos industriais, o ser humano deve ser sempre sujeito do Direito, e deve ser fim, jamais um mero meio, jamais um objecto de comercialização e industrialização. Ninguém está “além do bem e do mal”: nenhuma pessoa e nenhuma classe social, nenhum grupo de interesse, por mais influente que seja, e nenhum cartel de poder, nenhum aparato policial, nenhum exército e muito menos Estado algum. Ao contrário: todo ser humano, como ser dotado de razão e consciência moral, está obrigado a comportar-se de forma verdadeiramente humana, e a não se comportar de forma desumana; está obrigado a fazer o bem e não fazer o mal! ”

Não tenho a mínima dúvida que Mandela, esse negro universal, conhecia estes princípios e, mais, praticava-os. Enquanto outro filho de África, desconhecedor do que é humanidade, Mugabe chamado, apenas quis impor os seus desígnios pessoais, mascarando-os de actos de grande nacionalismo e amor aos negros. Os seus actos levaram ao massacre de populações e à ruína de um país. Mugabe nunca pode ser exemplo a seguir, como todos os racistas, fascistas e apólogos de princípios divisionistas, odientos, conflituosos.

Lembremos mais estas palavras da “Declaração de Ética Mundial”: «Inúmeras pessoas, em todas as regiões e religiões, esforçam-se por ter uma vida determinada não pelo egoísmo, mas pelo engajamento em favor dos semelhantes e do mundo que compartilham com eles. Ainda assim, há no mundo de hoje muito ódio, inveja, ciúme e violência: não apenas entre as pessoas enquanto indivíduos, mas também entre grupos sociais e étnicos, entre classes e raças, nações e religiões. O uso de violência, a comercialização de drogas e o crime organizado, munidos muitas vezes dos mais avançados recursos técnicos, alcançaram dimensões globais. Em muitos lugares ainda se governa com um terror “vindo de cima”; ditadores violentam seus próprios povos, a violência institucional é bastante difundida. Mesmo em países onde existem leis de defesa das liberdades individuais, presos são torturados, pessoas são mutiladas, reféns, assassinados.»

Não temos dúvidas que as pessoas praticam muitos actos condenáveis, o que confirma que, em vez de atiçarmos ódios e apregoarmos o divisionismo, devemos empenhar-nos na construção de um mundo mais solidário, mais justo, mais fraterno, onde qualquer ser se sinta feliz, sem agredir os outros nem o seu habitat.

A terminar, faremos apenas algumas perguntas.

-Serão os brancos os culpados da dizimação das florestas africanas?

-Serão os brancos os responsáveis pela usurpação das terras dos camponeses?

-Serão os brancos os criadores de seitas pseudo-religiosas onde os chefes abusam das jovens, perante a indiferença da justiça?

-Serão os brancos os responsáveis pelos casamentos prematuros de jovens moçambicanas a quem roubam o futuro?

Estas e outras muitas perguntas podem ser feitas, com a certeza de que na raiz desses males que afligem as populações e contribuem para o atraso do país, encontraremos políticos e gestores moçambicanos corruptos, ignorantes e incapazes de construírem soluções adequadas ao progresso das populações, sejam elas de que cor forem.

Os portugueses, pela experiência própria, sei que têm contribuído, na sua grande maioria, para criar empregos, apostar na formação de professores, de técnicos diversos, de gestores com qualidade, de médicos e de tantas ferramentas e infra-estruturas que preparam Moçambique para um desenvolvimento justo e mais qualificado para todos. Erros, falhas, haverá sempre, seja onde for que exista um ser humano, branco, negro, amarelo, vermelho, ou mestiço. Errar é próprio da natureza humana. Culpar os brancos de todos os males é, não só prova de ignorância, como de maldade.

 

Leonel Marcelino»

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